Aquela Mulher


Ela veio, atravessando a rua

Magra, despenteada, incólume.

Mostrando nos olhos a alma nua

Porque tinha motivo: era a fome!


Sisudo quando aquela figura encarei

Fantasiado num misto de força e temor

Fui desarmado pela brandura com que escutei:

"A dona da casa está, por favor?"


Numa cidade egoísta e violenta

Não é de bom tom baixar guardas

Como quem tranquilo se senta

Entre amigos a bebericar geladas


"Por que você quer saber?"

Qual seria aquele interesse em minha vida?

"Desculpe. Só queria a ela dizer

Se poderia me dar um pouco de comida!"


Aquela figura magérrima

que encontrei na rua e nem sei o nome

Levou de mim frutas e mais: uma lágrima.

Eu perdi o medo. Ela um pouco da fome!

“Só queria a ela pedir que me desse um pouco de comida.”

Por Humberto Nascimento 23 de novembro de 2024
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