Os dois lados


Sai da mesma boca que clama, o beijo

O som que por vezes maltrata, e o ensino.

E se há o fogo que queima,  em desejo

Há indiferença que mata, repentino.


Da mesma mão que bate, o carinho

Do mesmo pé que agride, o compasso

E o mesmo peito que nutre, o regaço

É o mesmo que pede revide, jacobino.


Parece que tudo se divide, sendo dois

Parece que nada se funde, num só

Seremos então uma metade de um nó

Dos laços que fomos no antes e depois?


Da mesma moeda dois lados, a sorte

Do mesmo pão que alimenta, a migalha

No mesmo instante que um nasce, a fagulha

É o mesmo que outro se afasta, na morte


Vai a vida seguindo em conflito,

Desde o famoso Ser ou não

Ser, como se o “tudo” fizesse do “nada” prosélito

Que só entende quem já aprendeu a lição.


E se retas paralelas, se encontram

No infinito do buscar entender

Todos os caminhos, me parece, demonstram

Viver é um constante aprender!


“Seremos então uma metade de um nó, dos laços que fomos no antes e depois?”

Disse o poeta: Narciso acha feio o que não é espelho!

E muitas vezes a gente busca o igual, na esperança de que dessa forma a vida em grupo fique mais fácil. Verdade, mas, no fundo, grande mentira.

Por um motivo bem simples: só posso me reconhecer como individualidade, porque existe o diferente de mim. Ou, em outras palavras, sem o diferente, Eu não existiria!

Se tudo fosse da mesma cor, não haveria distinção de nada.

Se todos os pensamentos fossem os mesmos, não haveria o que descobrir.

Tolerar o diferente, não com indiferença, mas com a defesa inabalável dele ser, pensar e agir diferente, mesmo que eu não concorde com nada.

Cada um enxerga o mundo com as cores da lente que estiver usando.

Ah, mas e se violar direitos?

Bem, aí a questão deixa de ser ética e passa a ser processual. Simples!


Por Humberto Nascimento 23 de novembro de 2024
Um lamento perdido
Por Humberto Nascimento 23 de novembro de 2024
Espera não rima com esperança